Faltam professores em escolas municipais da zona Norte de Natal

A reportagem foi na semana passada até o bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na zona Norte de Natal para mostrar os problemas enfrentados pela população.

Dentre as reclamações mais contundentes apresentadas pelos moradores, está o não atendimento médico no posto de saúde. A unidade de saúde da família da Planície das Mangueiras é uma das três no bairro, que atende aos moradores dos locais A, B e C, mas essa divisão nunca foi informada à população. Para saber se poderá ser informado, o morador de Nossa Senhora da Apresentação precisa ir até a unidade de saúde na cidade de Natal e verificar num mapa se a rua em que mora está incluída nessa divisão. Contudo, essa divisão existe há mais de 10 anos, mas grande parte dos moradores não sabe se pode receber um atendimento nesta unidade.

Outro problema que afeta todos os oito conjuntos de Nossa Senhora da Apresentação é a falta de professores nas escolas municipais. Para o estudante Mateus Silva, a única alternativa para continuar os estudos foi procurar uma escola em outro bairro. “Eu estudei no ano passado na escola municipal Waldson Pinheiro e lá faltavam professores, alguns estavam doentes, apresentavam licença médica, mas a escola não colocava um substituto. Era muito difícil nós termos o horário completo. Então, eu resolvi me mudar para outro bairro, para uma escola no connunto Santa catarina, que é no bairro Potengi”, explica o estudante.

Segundo um dos coordenadores da escola municipal Dalva de Oliveira, João Maria Gomes, confirma a ausência de professores, tanto no ensino fundamental quanto na educação de jovens e adultos (EJA). “Estão faltando dez professores, sendo quatro no turno matutino, quatro no vespertino e dois no turno noturno”, conta o coordenador. A infraestrutura da escola é precária e as instalações necessitam de reparos. Numa das partes do prédio, os alunos praticam atividades físicas, quando não chove, num local chamado de “poeirão”. Contudo, em períodos de chuva, os aluno são orientados a não brincar nesse local. O coordenador fala também que a merenda está suspensa, porque há um vazamento de gás na cozinha e o Corpo de Bombeiros orientou a coordenação da escola para que o resgistro de gás fosse fechado. Dessa forma, os alunos só podem ficar na escola por meio período, já que por lei, se o período de aula for integral, os estudantes devem receber a merenda.

O que pode ser feito?



Sobre a educação, a secretária municipal Justina Iva, expôs que algumas obras serão realizadas na escola municipal Dalva de Oliveira, para amenizar o transtornos dos alunos. “Eu quero informar que os pedagogos que faltavam nesta escola, a demanda foi encaminhada, sendo uma parte na quarta-feira e a outra nesta quinta e as aulas estarão com professores a partir de hoje (quinta-feira). Eu queria explica à população o motivo desse atraso. Esses professores participaram de um processo seletivo, iniciado em 2012 e finalizado em 31 de janeiro deste ano e nós fizemos a convocação. Eles tem 30 dias, por lei, para se apresentarem, mas eles estão enfrentando uma dificuldade com relação aos exames admissionais para serem nomeados”, explica a secretária.

Com relação ao espaço de recreação das crianças na escola municipal Dalva de Oliveira, Justina Iva disse que uma obra de adequação será realizada a partir de hoje (18), com a colocação de cimento no espaço de areia. Sobre a cozinha da escola, a secretária falou que o problema do vazamento de gás já foi contornado.

Sobre a divisão no atendimento de saúde aos moradores de Nossa Senhora da Apresentação, a diretora de atenção básica de Natal, Marisa Sandra Araújo, contou que existe um planejamento para a construção de outras unidades de saúde no bairro. “Como o bairro de nossa Senhora da Apresentação é bastante grande e infelizmente não houve o acompanhamento dos equipamentos necessários para atender toda a população, mas já estamos pleiteando junto ao Ministério das Cidades e do Planejamento. A secretária municipal de saúde, Virgínia Ferreira, participou de algumas reuniões e falou sobre a necessidade da construção de novas unidades de saúde na cidade, sobretudo em Nosso Senhora da Apresentação, que necessita de mais cinco postos. Até o final desse ano, vamos entregar uma unidade de saúde para os moradores. Mas para que os moradores sejam atendidos, nós estamos fazendo alguns estudos para a formatação da área de atendimento das três unidades de saúde existentes”, conta Marisa Araújo.



Futebol para a criançada

Futebol para educar. É nessa perspectiva que o Grupo de Ação Social Aprendendo a Crescer (Gasac) trabalha com crianças e jovens no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, na zona Norte de Natal.

O projeto criado por Gilvan Oliveira, morador do bairro há 20 anos, chama a atenção pela sua organização e pelo foco do seu trabalho: afastar crianças da criminalidade. E mesmo com todas as dificuldades, o Gasac tem colhido frutos ao longo dos anos de funcionamento. Aliando prática esportiva com a educação, Gilvan sempre cobra de seus alunos bons resultados na escola, condição número um para permanecer no projeto. “Ele (o Gilvan) sempre cobra que sejamos bons na escola. Cobra também que sejamos bons na escola e tenhamos obediência e respeito para com nossos pais. Se não for assim, não fica no projeto”, afirma Leonardo Gurgel, aluno do Gasac.

De acordo com Gilvan, o Gasac surgiu devido ao principal problema que ele combate hoje, que é o envolvimento de crianças e adolescentes com as drogas e o crime.”Quando comecei a trazer meus filhos para a quadra, percebi, já naquela época, que aqui tinha muita droga, e que muita gente que vinha para cá tinha o intuito de consumir drogas. Os meninos que vinham jogar bola aqui não formavam um time inteiro. A partir disso organizei o projeto, que foi aumentando, e hoje está do jeito que está. Graças a Deus, hoje não existe mais droga na nossa quadra”, lembra Gilvan.

O coordenador e treinador lembra que no começo era complicado manter os ânimos dos pequenos.”Era difícil porque quando se tem 22 meninos, às vezes eu tinha que separar um brigando aqui, outro começando a brigar ali. Às vezes tinha que suspender. Quando fazia isso, eles iam na minha casa pedir para voltar. Hoje sofremos menos com isso. Todos já sabem que precisa ter disciplina, tanto aqui quanto fora da quadra. Os mais novos quando chegam já são orientados pelos mais velhos que é preciso se comportar”, recorda o treinador.

E a metodologia do projeto tem dado certo. Cada vez mais os meninos têm mostrado mais disciplina, dentro e fora de quadra. Michel Platini é um dos que já passaram pela cobrança do “professor Gilvan”. O xará do craque francês lembra que precisou melhorar na escola para permanecer no projeto. “Quando eu reprovei na escola, o Gilvan disse que, se eu não melhorasse, ele não ia deixar mais eu participar do projeto e que iria falar com meus pais. Aí eu tive que melhorar. Quero ser alguém na vida”, falou o pequeno atleta.

Ele ainda lembra que alguns amigos já abandonaram o projeto por se envolver com a criminalidade. “Tenho amigos que já se envolveram com coisa ruim (drogas). Já até me chamaram, mas eu disse que não queria, porque isso não leva ninguém a nada”, declarou.

Antes de cada treino, os próprios alunos preparam a estrutura, montando as redes nas traves e conferindo o material que será utilizado na atividade. Entre os participantes, um dos que chamam mais atenção é o “árbitro” Jefferson Willian, de apenas 8 anos. Ele se destaca por não poupar ninguém na hora de disciplinar os atletas em quadra. Durante um treino, em um lance mais duro, Jefferson justifica a marcação de uma falta.

– Marquei porque ele quase machucou o colega. Aqui não pode machucar ninguém. Na quadra eles têm que me respeitar – falou o incisivo árbitro do jogo.

Para manter o projeto vivo, Gilvan conta com o auxílio da comunidade. Com esse apoio, foi possível comprar as redes das traves, as telas de proteção da quadra, além dos uniformes e das bolas. É também com a ajuda dos moradores e dos pais dos alunos que o projeto organiza as suas confraternizações.

Resultados do projeto

Mesmo sem o foco de formar atletas profissionais, a cobrança por resultados parte dos próprios alunos. Após os primeiros quatro anos de funcionamento, o Gasac começou a colher seus primeiros frutos, com os primeiros troféus conquistados. Hoje, o time é um dos melhores da cidade, colecionando prêmios. Para Gilvan, os troféus e medalhas são apenas uma consequência. “No começo eu só queria que eles nunca se envolvessem com as drogas. O mais difícil é perder esses meninos para as drogas. Quando eles chegam aos 14, 15 anos, isso fica mais difícil. De uma turma de 25, pelo menos dois ou três nós perdemos para a droga. Para mim, isso é muito. O que eu realmente queria era que não perdêssemos nenhum”, finalizou.

Fonte: G1





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